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O que são os ícones e seu fundamento
A Encarnação
No Antigo Testamento, Deus tinha proibido que se tentasse reproduzir a sua imagem. Textos bíblicos (Dt 4, 12 e 15) nos dizem que, também quando se ouviu o som das palavras de Deus, nenhuma imagem foi vista, e muitas censuras foram feitas a cada nova tentação de esculpir e adorar um ídolo! Somente a arte decorativa, prevalecendo a de forma geométrica, exprimia o sentido do infinito, como vemos ainda hoje com os hebreus ou os muçulmanos. Tão-só a representação dos anjos foi permitida no Antigo Testamento (Ex 25,17-22) e sobre a arca da aliança havia-se esculpido o ícone dos querubins como prenúncio de acontecimento futuro.
A hora do nascimento terreno do Filho de Deus é a hora do nascimento do ícone: Jesus Cristo, com efeito, não é apenas o Verbo de Deus, mas também a sua imagem: «Cristo é a imagem (eikón) do Deus invisível (Cl 1, 15). São João Damasceno, o teólogo poeta, morto em 749, que nos seus três Tratados pela defesa dos santos ícones, na época iconoclasta, tanto aprofundou esta questão, explica a superação da proibição das Escrituras de se representar o Deus invisível:
"Quando virmos aquele que não tem corpo tornar-se homem por nossa causa, então poderemos executar a representação de seu aspecto humano. Quando o Invisível, revestido de carne, se tornar visível, então representa a imagem daquele que apareceu... Quando aquele que é a Imagem consubstancial do Pai despojou-se, assumindo a imagem de escravo (Fl 2, 6-7), tornando-se assim limitado na quantidade e na qualidade por se ter revestido da imagem carnal, então pintamos (...) e expomos à vista de todos Aquele que se quis manifestar. Pintemos o seu nascimento da Virgem, o seu batismo no Jordão, a sua Transfiguração no monte Tabor, pintemos tudo com a palavra e com as cores nos livros e na madeira". [1]
O fundamental e primeiro ícone, tomando a palavra no seu significado mais amplo de imagem é, assim, a própria face de Cristo. E podemos representá-la, porque não se trata mais de uma imagem inacessível à vista, mas de uma pessoa real. O ícone de Jesus Cristo exprime, através da imagem, o dogma do Concílio de Calcedônia (451): o ícone não representa tão-só a natureza divina, nem só a natureza humana de Cristo, mas representa a sua Pessoa, a pessoa de Deus Homem, que reúne em si, sem mistura nem divisão, as duas naturezas.
Doravante, serão possíveis também os ícones da Mãe de Deus, mesmo quando a Virgem Santíssima carrega o Filho divino (e são pouquíssimos os ícones sem a presença de Jesus); eles são às vezes denominados ícones da Encarnação.
Serão possíveis os ícones dos santos, porque, assumindo a natureza humana, o Filho de Deus não só renova no homem a imagem obscurecida com a queda de Adão, mas a recria mais profundamente à imagem de Deus. Cristo abre para o homem o caminho da transfiguração pela graça... como diz São Paulo: "Nós que (...) refletimos como num espelho a glória do Senhor, somos transfigurados nessa mesma imagem" (2Cor 3, 18). Assim, o ícone transmite verdadeiramente a imagem do um homem purificado, transfigurado.... revestido da beleza incorruptível do Reino de Deus, de uma pessoa humana transformada em ícone vivente de Deus (pp. 15-18).
A palavra ícone deriva do termo grego eikón, que significa genericamente imagem. Todavia, na história da arte e também na linguagem comum, a palavra ícone é reservada a uma pintura, geralmente portátil, de gênero sagrado, executada sobre madeira com uma técnica particular, e segundo uma tradição transmitida pelos séculos. A pátria do ícone é o Oriente bizantino que, com desvelo, conservou obras-primas artísticas de grande valor espiritual que chegaram até nós.
Os ícones representam Jesus Cristo, a Mãe de Deus, os anjos, os santos e outros temas religiosos, mas o ícone é muito mais do que uma simples figuração; somente o acontecimento da Encarnação de Nosso Senhor o tornou possível.
A função do ícone
“O ícone não é um quadro; nele vem representado não aquilo que o pintor tem diante dos olhos, mas certo protótipo a que ele deve ater-se. A veneração dos ícones deriva da veneração do protótipo. Os ícones são beijados; através deles esperam-se curas; são venerados, porque são representações de Cristo, da Virgem Maria, dos Santos. Os ícones entram no ofício litúrgico. A iconografia é, de certo modo, uma arte ritual. A reverência devida ao ícone e a sua criação foram rigidamente regulamentadas pelo VII Concílio Ecumênico. Os eclesiásticos consideravam-se verdadeiros criadores de ícones e os artistas eram tidos como realizadores das idéias deles” (pp. 7-9).
Os ícones, visíveis representações das magnificências misteriosas e sobrenaturais, para usar a antiga fórmula de São Dionísio Areopagita, têm lugar importantíssimo na tradição espiritual ortodoxa. E, se quisermos apressar a união entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente - elas que no primeiro milênio tinham em comum também a língua viva do sinal iconográfico, devemos conhecê-los, apreciá-los, compreendê-los como um tesouro espiritual; o que eles representam para os cristãos da tradição bizantina.
O ícone não é o resultado de uma intuição ou a figuração de uma impressão do artista; ele é fruto de uma tradição e, antes de ser pintado, é uma obra profundamente meditada, pacientemente elaborada por gerações de pintores. Um especialista soviético [2] dizia que:
Uma janela para eternidade
O ícone é inspirado e sagrado de modo específico, símbolo que contém presença, cujo tempo, espaço e movimento não são representados pela percepção comum. A própria laconicidade de seus traços nos remete para uma mensagem de fé, a «visão do Invisível», para empregar as palavras de São Paulo (Hb 11,1).
“O ícone se afirma independentemente do artista e do espectador e suscita não a emoção, mas a vinda do transcendente, cuja presença ele atesta. O artista se esconde atrás da Tradição que fala. A obra torna-se uma manifestação de Deus, diante da qual devemos nos prostrar num ato de adoração e de oração”. [3]
Poder-se-ia continuar muito mais, tentando precisar bem o que é o ícone, mas os orientais não gostam de definir; pelo contrário, observa um deles, é necessário não definir! Portanto, procuremos descobrir pessoalmente o que é o ícone.
No recolhimento e no silêncio, os olhos se abrem para a luz da Transfiguração e seremos naturalmente conduzidos pela força do Espírito à luz do ícone, a fim de contemplar não só a face de Jesus, mas também a luz da verdade divina (pp. 20s).
Imagens do Invisível
Deus sabe tirar o bem de tudo! Alegremo-nos, pois «os ícones da antiga Rússia revelaram o mundo interior do homem, a pureza, a nobreza de sua alma, a sua capacidade de sacrifício, a profundidade de seu pensamento e dos seus sentimentos», como escreve o pintor Igor Grabar, Acadêmico soviético e também Diretor do Laboratório Nacional de Restauração. Ele continua:
“Pela primeira vez (sob as camadas de verniz fuliginosas e reparos) apareceu uma arte brilhante, que nos impacta e encontra pela harmonia delicada de suas cores, pelo ritmo e a segurança de suas linhas, pelo caráter profundamente inspirado de suas imagens. A pintura dos ícones da antiga Rússia é parte integrante do tesouro constituído pela herança cultural de toda a humanidade”. [4]
Para compreender os ícones, é necessária uma tríplice aproximação entre: conhecimento científico, valor artístico e visão teológica.
Paulo VI, falando aos artistas, reunidos em 7 de maio de 1964 na Capela Sixtina, denominou-os mestres na arte de transvasar o mundo invisível com fórmulas acessíveis e inteligíveis». O ícone é realmente a apresentação dos dogmas de modo visível; é antes um lugar de presença e de encontro espiritual, um sinal de graça.
O ícone nos mostra o homem como Deus o ama, transfigurado pelos seus dons, e é um convite para nos abrirmos à realidade espiritual, a rezar; ligada intimamente à economia da salvação, a imagem sagrada põe em destaque os dois aspectos principais da obra redentora de Cristo: a pregação da verdade e a comunicação da graça. [5]
Na civilização da imagem, frequentemente dispersiva, em que vivemos, a presença do ícone nos ajuda a realizar nossa vocação cristã: reproduzir em nós a imagem de Cristo, tornar-nos seu ícone.
Cristo, verdadeiramente luz que ilumina e santifica todo homem que vem ao mundo, resplandeça sobre nós a luz de vossa face, a fim de que nela vejamos a luz inacessível; e dirigi nossos passos para o cumprimento dos vossos mandamentos, pelas orações de vossa puríssima Mãe e de todos os Santos. Amém (pp. 10-12).
Através do ícone o divino nos ilumina. A luz é o atributo principal da glória celeste e os ícones representam os habitantes do Reino, contempladores da luz incriada, pela qual se deixam penetrar até se tornarem esplendorosos, como indica o nimbo ao redor de seus rostos (os nimbos não são, como as auréolas ou as coroas, simples sinais da santidade). O ícone, visto com os olhos do coração iluminados pela fé, nos abre para a realidade invisível, para o mundo do Espírito, para a economia divina, para o mistério cristão na sua totalidade ultraterrena. É lugar teológico, antes, teologia visual, como muitos já disseram.
O ícone é inspirado e sagrado de modo específico, símbolo que contém presença, cujo tempo, espaço e movimento não são representados pela percepção comum. A própria laconicidade de seus traços nos remete para uma mensagem de fé, a «visão do Invisível», para empregar as palavras de São Paulo (Hb 11,1).
Notas:
[1] São João Damasceno, Primeiro Tratado em defesa dos santos ícones. PG 94, cols. 1239-1240a.
[2] M. Alpatov, Drevnerusskaja ikonopis (em russo = Antiga inconografia russa). Introduçâo em russo e em inglês, p. 6.
[3] P. Evdokimov, La connaíssance de Dieu dans la tradition iconographique, in Unité Chrétienne, nn. 46-47, Lyon, 1977, p. 60.
[4] Na Introdução do álbum atrás citado.
[5] T. Spidlik, La spiritualité de l'Orient Chrétien, Roma, 1978, p. 301.
Fonte:
Extraído de: «Pergunte e Responderemos», 456 - pp. 219-225)